quarta-feira, 3 de outubro de 2012

CRÍTICAS


A cor em Teresa Asmar é tão intrinsecamente ligada aos seus ritmos que seus quadros poderiam ser lidos não apenas  como o resultado do ato pictórico, mas como o próprio
registro deste enquanto duração. Ou seja, aqui a pintura se documenta e se comenta a si mesma, deixando – nos entrever as hesitações, as retomadas, os procedimentos agregadores ou os supressores.
A tensão desses ritmos, até nos menos explícitos (ou principalmente nestes) é contraponteada por uma sensibilidade muito refinada, pelas passagens e pelas nuances, apesar do tratamento denso e gestualmente pesado da pincelada.
Teresa Asmar também se exercita na figuração, o que faz de forma elaborada e persuasiva. Nesta sua vertente abstrata ela joga com os entitamentos fortes, à maneira dos expressionistas, numa linguagem que equilibra as qualidades de colorista com as de criadora eminentemente gestual.
Ruy Sampaio

Antônio Houaiss para o catálogo da Exposição no Museu Nacional de Belas Artes
Não se vai às mostras de pinturas, quadros, esculturas, objetos ou qye outros nomes tenham para experimentar, necessariamente, emoções, correspondências, náuseas ou desconfortos interiores. Mas, de outro lado, não se vai sem a esperança, difusa que seja, de - quem sabe? - se entrar num mundo (pequenino qye seja) que se acerescente ao nosso mundinho de cada um. Esse ir esperançoso às vezes enriquece (por que não, alarga, aprofunda, redimensiona, substancía? [o acento agudo, aí, esta errado, mas facilita a compreesão do que quero dizer] o nosso mundinho (ou mundão, universo, pancosmo - segundo o "meu"grau de auto-suficiência ou onissapiência).

Não raro, porém, sequiosos de estarmos em dia com a "modernidade"(que não raro é modernosidade ou, mais vanguardidisimidade),"gostamos" por não termos ainda visto (por atraso pessoal) ou por crermos que o "novo"é sempre melhor. Este intróito (palavra feia, mas adequada ao caso) é para permitir-me falar da obra de Teresa Asmar - aqui e agora.

É comovente a dedicação - voto , devoção , paixão , obsessão , obcecação, eis a palavra : amor - com que os artitas se dão ao seu horizonte, à sua razão de ser, de busca, como fanal, farol, faro, sobrevida, vida (há a palavra?).
Aqui, a Asmar mostrou , antes, que certo geometrismo informal fortemente cromáticoe sem entretons era a sua linguagem - o que seria um milagre de precocidade, se ancorado nela. Não sei se encontrou - ou não - quem com ela dialogasse: coisa que importa, mas não importa enquanto "sua"arte não chegar àquilo a que ela aspira. Mas não lhe havia alternativa (não nos há alternativa , salvo o suicídio) : prosseguiu (estamos prosseguindo): restaram-lhe vestígios geometrizantes, fusões cromáticas calentíssimas , manhas ou manchas (que melhor?) ardentemente fraternas mas não obscenas nem incestuosas , ocupações territoriais cromáticas totais, perseguidas, perseguindo a ela e a nós. Vieram outras fases, não importa buscá-las , é a borra , o lastro , o sêmen , o resto , o niil ,o resquício , o índice , o vestígio de que houve essa coisa inimaginável que é a vida ; e foi para ela , numa retroatividade multimilenar , que Asmar se nos apresenta agora. Buscando pintar, pintar, pintar, tentando dizer o que só a pintura diz , mas não pode dizer (e é por isso que ela é "sua"linguagem) sem intermediações, não é espanto que a vemos volta às fontes, ao concreto que supomos natural , visível , elementar , fonte ,desejo, anseio, esperança, raíz, origem, a só razão de querermos e nos querermos - o corpo, mas, no nosso humanocentrismo (é concebível outro?) , o humano: vejamo-lo, fêmeas e macho (um só, tão isento, tão limpo, tão adâmico).

Se amo em Teresa Asmar a sua luta (e não o é?) , amo o seu amor da pintura e as pinturas de sua pintura: paixão , devoção e esperança de amanhãs.
Antônio Houaiss

Edgard Azevedo
Teresa Asmar vem buscando, incessantemente, sua própria linguagem para alcançar suas metas. Acompanhando seus trabalhos encontramos uma grande variedade de imagens, que vão do abstrato ao figurativo e às figuras, sempre transmitidas com muita força e personalidade.
Apresentando agora seus nús ela dá seu traço pessoal a cada trabalho, dando às imagens sua própria feição, com extrema habilidade e incontestável técnica. Seus trabalhos ganham um valor pelo seu traço firme e, ao mesmo tempo, delicado.
Resolvendo bem os problemas de desenho, cor e organização de espaço, a artista integra, com rigor, conteúdo e forma.
Mostrando seu talento e seu intenso trabalho ela conduz sua pintura de maneira correta e adequada. 
Rio setembro 1995 
Edgard Azevedo

JACOB KLINTOWITZ
A pintura de Teresa Asmar
Para a artista Teresa Asmar a natureza humana tem algumas constantes, coisas que se repetem em todos os seres e estes elementos permanentes são a cor, a forma, a expressão e a arte. O elemento comum  à todos os homens é a arte. A busca de identificação deste ponto convergente explica o interesse da artista pela representação visual pré-histórica, a sua fascinação pelas cavernas e pela arte grotesca. E porque a vivência cromática indígena
É capaz de lhe servir de base para a elaboração de um complexo projeto coletivo de exercício criativo.O sentimento básico, que termina por orientar o seu trabalho, é o de recuperar o movimento inicial, o gesto inaugural, o procedimento do artista absoluto, total, do homem “primitivo” e, como ele, tornar a vida inteiramente forma e cor, expressão e arte. Ai está a gênese do seu processo criativo.
Teresa Asmar não quer apenas mostrar e apresentar o seu universo interior.O que já seria tarefa maiúscula. A artista pretende criar segundo um procedimento essencial, semelhante em todos os artistas e épocas. É necessário recuperar este método natural, essa maneira de viver, esta maneira de ser. É a busca deste procedimento e a sua vivência o que explica o trabalho da artista, o caráter de objeto mágico e lírico de sua pintura, este universo revelado de força, vitalidade e mistério.Aqui trata-sede apresentar – banida a palavra representar – as forças vivas do universo, canalizadas pela artista, as suas sensações e percepções de um mundo rico, cromático, feito de linhas e formas que ela, como todos nós, observa e entende parcialmente.E é esta incompletude, a visão compartimentada, o que a move, cada vez mais, em busca da desejada totalidade.
O sistema da artista é a de entrega total, o método TeresAsmar é semelhante ao xamânico, como era o dos admirados artista”primitivos” e dos índios brasileiros, e o resultado é a sua visão renovadora e inteiramente pessoal da existência,esta existência feita de constantes humanas,a cor, as formas,a expressão,a arte.Pintar como um ato religioso, no sentido de religare, unir as partes, estar um com o universo, abandonar uma concepção dicotômica da realidade.É esta concepção de uma existência total, mágica, feita de fluxos energéticos e passagens, o que informa a arte de Teresa Asmar. E um sistema pessoal de entrega total, o que constitui o seu processo criativo e o que constrói a sua pintura.
Teresa Asmar, talvez, pudesse ser incluída em algum movimento de realismo fantástico, se gostássemos de rótulos, já que o seu trabalho afasta-se da lógica aristotélica e formalmente cria uma lógica a partir de associações visuais.A sua pintura afasta-se das considerações de tempo – espaço e volta-se inteiramente para a busca de significados simbólicos e o critério para a sua escolha e a aceitação é o da sua intuição. Teresa Asmar constrói uma arte marcada pela individualidade e orientada por certezas intuídas.
Em um estudo para um projeto a artista escreve que “... a arte em minha concepção é uma Expressão dos sentidos e emoções, tornando-se numa total abstração...”. Se tomarmos a tradição moderna como referência, o trabalho de Teresa Asmar é pendular, nas polaridades figurativa e abstrata. O que evidentemente não a preocupa, pois ela não pretende o caráter figurativo da representação ou a possibilidade de abstrair a figura ou a memória do objeto.Teresa Asmar pinta o seu próprio sentimento. O que significa, na verdade, que a sua pintura é uma apresentação de si mesmo. Ela é uma pintura em si mesmo, é um objeto, é um em si, um ente do espírito e, deste ponto de vista, o de inventar um ser, o de ser pela primeira vez, o de representar a si mesmo, é um objeto figurativo, ou seja, tem um desenho. Como ser, a sua pintura esta presentificada. E, deste último mirante, é uma arte abstrata, pois está ausente a referência visual, e figurativa, pois tem o seu contorno definidor.
Jacob Klintowitz

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