A cor em Teresa Asmar é tão intrinsecamente ligada aos seus ritmos
que seus quadros poderiam ser lidos não apenas como o resultado do ato
pictórico, mas como o próprio
registro deste enquanto duração. Ou seja, aqui a pintura se documenta
e se comenta a si mesma, deixando – nos entrever as hesitações, as retomadas, os
procedimentos agregadores ou os
supressores.
A tensão desses ritmos, até nos menos explícitos (ou principalmente
nestes) é contraponteada por uma sensibilidade muito refinada, pelas passagens e
pelas nuances, apesar do tratamento denso e gestualmente pesado da
pincelada.
Teresa Asmar também se exercita na figuração, o que faz de forma
elaborada e persuasiva. Nesta sua vertente abstrata ela joga com os entitamentos
fortes, à maneira dos expressionistas, numa linguagem que equilibra as
qualidades de colorista com as de criadora eminentemente gestual.
Ruy Sampaio
Antônio
Houaiss para o catálogo da Exposição no Museu Nacional de Belas
Artes
Não se vai às
mostras de pinturas, quadros, esculturas, objetos ou qye outros nomes tenham
para experimentar, necessariamente, emoções, correspondências, náuseas ou
desconfortos interiores. Mas, de outro lado, não se vai sem a esperança, difusa
que seja, de - quem sabe? - se entrar num mundo (pequenino qye seja) que se
acerescente ao nosso mundinho de cada um. Esse ir esperançoso às vezes enriquece
(por que não, alarga, aprofunda, redimensiona, substancía? [o acento agudo, aí,
esta errado, mas facilita a compreesão do que quero dizer] o nosso mundinho (ou
mundão, universo, pancosmo - segundo o "meu"grau de auto-suficiência ou
onissapiência).
Não raro, porém, sequiosos de estarmos em dia com a "modernidade"(que não raro é modernosidade ou, mais vanguardidisimidade),"gostamos" por não termos ainda visto (por atraso pessoal) ou por crermos que o "novo"é sempre melhor. Este intróito (palavra feia, mas adequada ao caso) é para permitir-me falar da obra de Teresa Asmar - aqui e agora.
É comovente a dedicação - voto , devoção , paixão , obsessão , obcecação, eis a palavra : amor - com que os artitas se dão ao seu horizonte, à sua razão de ser, de busca, como fanal, farol, faro, sobrevida, vida (há a palavra?).
Aqui, a Asmar mostrou , antes, que certo geometrismo informal fortemente cromáticoe sem entretons era a sua linguagem - o que seria um milagre de precocidade, se ancorado nela. Não sei se encontrou - ou não - quem com ela dialogasse: coisa que importa, mas não importa enquanto "sua"arte não chegar àquilo a que ela aspira. Mas não lhe havia alternativa (não nos há alternativa , salvo o suicídio) : prosseguiu (estamos prosseguindo): restaram-lhe vestígios geometrizantes, fusões cromáticas calentíssimas , manhas ou manchas (que melhor?) ardentemente fraternas mas não obscenas nem incestuosas , ocupações territoriais cromáticas totais, perseguidas, perseguindo a ela e a nós. Vieram outras fases, não importa buscá-las , é a borra , o lastro , o sêmen , o resto , o niil ,o resquício , o índice , o vestígio de que houve essa coisa inimaginável que é a vida ; e foi para ela , numa retroatividade multimilenar , que Asmar se nos apresenta agora. Buscando pintar, pintar, pintar, tentando dizer o que só a pintura diz , mas não pode dizer (e é por isso que ela é "sua"linguagem) sem intermediações, não é espanto que a vemos volta às fontes, ao concreto que supomos natural , visível , elementar , fonte ,desejo, anseio, esperança, raíz, origem, a só razão de querermos e nos querermos - o corpo, mas, no nosso humanocentrismo (é concebível outro?) , o humano: vejamo-lo, fêmeas e macho (um só, tão isento, tão limpo, tão adâmico).
Se amo em Teresa Asmar a sua luta (e não o é?) , amo o seu amor da pintura e as pinturas de sua pintura: paixão , devoção e esperança de amanhãs.
Não raro, porém, sequiosos de estarmos em dia com a "modernidade"(que não raro é modernosidade ou, mais vanguardidisimidade),"gostamos" por não termos ainda visto (por atraso pessoal) ou por crermos que o "novo"é sempre melhor. Este intróito (palavra feia, mas adequada ao caso) é para permitir-me falar da obra de Teresa Asmar - aqui e agora.
É comovente a dedicação - voto , devoção , paixão , obsessão , obcecação, eis a palavra : amor - com que os artitas se dão ao seu horizonte, à sua razão de ser, de busca, como fanal, farol, faro, sobrevida, vida (há a palavra?).
Aqui, a Asmar mostrou , antes, que certo geometrismo informal fortemente cromáticoe sem entretons era a sua linguagem - o que seria um milagre de precocidade, se ancorado nela. Não sei se encontrou - ou não - quem com ela dialogasse: coisa que importa, mas não importa enquanto "sua"arte não chegar àquilo a que ela aspira. Mas não lhe havia alternativa (não nos há alternativa , salvo o suicídio) : prosseguiu (estamos prosseguindo): restaram-lhe vestígios geometrizantes, fusões cromáticas calentíssimas , manhas ou manchas (que melhor?) ardentemente fraternas mas não obscenas nem incestuosas , ocupações territoriais cromáticas totais, perseguidas, perseguindo a ela e a nós. Vieram outras fases, não importa buscá-las , é a borra , o lastro , o sêmen , o resto , o niil ,o resquício , o índice , o vestígio de que houve essa coisa inimaginável que é a vida ; e foi para ela , numa retroatividade multimilenar , que Asmar se nos apresenta agora. Buscando pintar, pintar, pintar, tentando dizer o que só a pintura diz , mas não pode dizer (e é por isso que ela é "sua"linguagem) sem intermediações, não é espanto que a vemos volta às fontes, ao concreto que supomos natural , visível , elementar , fonte ,desejo, anseio, esperança, raíz, origem, a só razão de querermos e nos querermos - o corpo, mas, no nosso humanocentrismo (é concebível outro?) , o humano: vejamo-lo, fêmeas e macho (um só, tão isento, tão limpo, tão adâmico).
Se amo em Teresa Asmar a sua luta (e não o é?) , amo o seu amor da pintura e as pinturas de sua pintura: paixão , devoção e esperança de amanhãs.
Antônio
Houaiss
Edgard
Azevedo
Teresa Asmar vem buscando, incessantemente, sua própria linguagem
para alcançar suas metas. Acompanhando seus trabalhos encontramos uma grande
variedade de imagens, que vão do abstrato ao figurativo e às figuras, sempre
transmitidas com muita força e personalidade.
Apresentando agora seus nús ela dá seu traço pessoal a cada trabalho,
dando às imagens sua própria feição, com extrema habilidade e incontestável
técnica. Seus trabalhos ganham um valor pelo seu traço firme e, ao mesmo tempo,
delicado.
Resolvendo bem os problemas de desenho, cor e organização de espaço,
a artista integra, com rigor, conteúdo e forma.
Mostrando seu talento e seu intenso trabalho ela conduz sua pintura
de maneira correta e adequada.
Rio
setembro 1995
Edgard
Azevedo
JACOB
KLINTOWITZ
A pintura
de Teresa Asmar
Para a artista Teresa Asmar a natureza humana tem algumas constantes,
coisas que se repetem em todos os seres e estes elementos permanentes são a cor,
a forma, a expressão e a arte. O elemento comum à todos os homens é a arte. A
busca de identificação deste ponto convergente explica o interesse da artista
pela representação visual pré-histórica, a sua fascinação pelas cavernas e pela
arte grotesca. E porque a vivência cromática indígena
É capaz de lhe servir de base para a elaboração de um complexo
projeto coletivo de exercício criativo.O sentimento básico, que termina por
orientar o seu trabalho, é o de recuperar o movimento inicial, o gesto
inaugural, o procedimento do artista absoluto, total, do homem “primitivo” e,
como ele, tornar a vida inteiramente forma e cor, expressão e arte. Ai está a
gênese do seu processo criativo.
Teresa Asmar não quer apenas mostrar e apresentar o seu universo
interior.O que já seria tarefa maiúscula. A artista pretende criar segundo um
procedimento essencial, semelhante em todos os artistas e épocas. É necessário
recuperar este método natural, essa maneira de viver, esta maneira de ser. É a
busca deste procedimento e a sua vivência o que explica o trabalho da artista, o
caráter de objeto mágico e lírico de sua pintura, este universo revelado de
força, vitalidade e mistério.Aqui trata-sede apresentar – banida a palavra
representar – as forças vivas do universo, canalizadas pela artista, as suas
sensações e percepções de um mundo rico, cromático, feito de linhas e formas que
ela, como todos nós, observa e entende parcialmente.E é esta incompletude, a
visão compartimentada, o que a move, cada vez mais, em busca da desejada
totalidade.
O sistema da artista é a de entrega total, o método TeresAsmar é
semelhante ao xamânico, como era o dos admirados artista”primitivos” e dos
índios brasileiros, e o resultado é a sua visão renovadora e inteiramente
pessoal da existência,esta existência feita de constantes humanas,a cor, as
formas,a expressão,a arte.Pintar como um ato religioso, no sentido de religare,
unir as partes, estar um com o universo, abandonar uma concepção dicotômica da
realidade.É esta concepção de uma existência total, mágica, feita de fluxos
energéticos e passagens, o que informa a arte de Teresa Asmar. E um sistema
pessoal de entrega total, o que constitui o seu processo criativo e o que
constrói a sua pintura.
Teresa Asmar, talvez, pudesse ser incluída em algum movimento de
realismo fantástico, se gostássemos de rótulos, já que o seu trabalho afasta-se
da lógica aristotélica e formalmente cria uma lógica a partir de associações
visuais.A sua pintura afasta-se das considerações de tempo – espaço e volta-se
inteiramente para a busca de significados simbólicos e o critério para a sua
escolha e a aceitação é o da sua intuição. Teresa Asmar constrói uma arte
marcada pela individualidade e orientada por certezas intuídas.
Em um estudo para um projeto a artista escreve que “... a arte em
minha concepção é uma Expressão dos sentidos e emoções, tornando-se numa total
abstração...”. Se tomarmos a tradição moderna como referência, o trabalho de
Teresa Asmar é pendular, nas polaridades figurativa e abstrata. O que
evidentemente não a preocupa, pois ela não pretende o caráter figurativo da
representação ou a possibilidade de abstrair a figura ou a memória do
objeto.Teresa Asmar pinta o seu próprio sentimento. O que significa, na verdade,
que a sua pintura é uma apresentação de si mesmo. Ela é uma pintura em si mesmo,
é um objeto, é um em si, um ente do espírito e, deste ponto de vista, o de
inventar um ser, o de ser pela primeira vez, o de representar a si mesmo, é um
objeto figurativo, ou seja, tem um desenho. Como ser, a sua pintura esta
presentificada. E, deste último mirante, é uma arte abstrata, pois está ausente
a referência visual, e figurativa, pois tem o seu contorno definidor.
Jacob
Klintowitz
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